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Julho das Pretas é celebrado no Clara Nunes

Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, Dia de Tereza de Benguela, Dia da Escritora, Dia da Trancista e a entrega do 1⁰ Prêmio Cleone Santos

Na noite desta terça-feira (25), o Teatro Clara Nunes foi palco de uma grande celebração para a população negra de Diadema. O evento reuniu centenas de pessoas para comemorar o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, o Dia de Tereza de Benguela, o Dia da Escritora, o Dia da Trancista e a entrega do 1⁰ Prêmio Cleone Santos.

Abertura: Batuque Abayomi
Os convidados foram recebidos pelo Batuque Abayomi, um grupo de mulheres de diferentes idades, criado em 2011 para uma intervenção artística no dia 08 de março, dia internacional da mulher, e que acabou ganhando força com a mulherada diademense.

Abayomi que dizer em Iorubá “encontro precioso que traz felicidade” e era o nome dado a bonecas confeccionadas por mães escravizadas que viajavam em navios negreiros vindos da África para o Brasil. Para acalentar os filhos as mães africanas rasgavam retalhos de suas saias e a partir deles criavam pequenas bonecas, feitas de tranças ou nós, que serviam como amuletos.

Foi essa força ancestral que fez tremer o teatro e deu o tom da noite em homenagem às mulheres pretas.

“É importante essa data ser lembrada não só hoje, mas 365 dias por ano,” afirmou Márcia Damaceno, coordenadora de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Diadema. “Se a situação das mulheres brasileiras já não é fácil, a das mulheres negras é ainda mais desigual. Por isso é importante parar um pouquinho, refletir, e ver como essa gestão do prefeito Filippi e da vice-prefeita Patty estamos conseguindo fazer um pouco de reparação dessa dívida histórica que temos com a população negra.”

Para Sheila Onório, coordenadora de Políticas Públicas para as Mulheres, noites como essa ajudam a dar visibilidade às mulheres negras que não alcançam o devido reconhecimento em suas áreas devido ao machismo e ao racismo. “Como mulher e negra, pra mim é um marco estar aqui hoje,” complementou. “O povo negro quer, pode e deve estar junto de todos, ocupando os espaços que lhe são devidos. Não queremos mais nem menos que os outros, lutamos por igualdade de oportunidades.”

“Este é um dia em que a gente pode levantar nossa voz e falar, sem ser calada,” resumiu a vice-prefeita Patty Ferreira, muito emocionada. Ela, que já tocou com o Batuque Abayomi, mais do que ninguém reconhece a força da ancestralidade. “Essa é uma pauta que sempre me arrepia, quando venho falar do povo preto em geral. Porque a gente precisa continuar essa luta o tempo inteiro. Levantar a mão em punho e dizer que estamos aqui. Existimos. E precisamos ser ouvidos. E afirmo: Essa gestão reconhece, apoia e trabalha pelo povo preto. Feliz Dia das Pretas!”

Diadema Escreve: Ryane Leão
O evento recebeu, em homenagem ao Dia do Escritor e da Escritora, a poeta cuiabana Ryane Leão. Radicada em São Paulo, ela ainda jovem descobriu a poesia e a escrita a partir de saraus e slams, um tipo de “batalha de poesias” onde o microfone aberto incentiva a manifestação artística. Foi onde, pela primeira vez, ela viu que a literatura podia ser menos branca, e mais como ela, mulher, jovem, negra, lésbica, de santo. Colocou seus pensamentos no papel, publicou e se tornou best-seller, uma expoente da literatura brasileira contemporânea.

“Tereza de Benguela foi fundadora de um dos maiores quilombos do Mato Grosso e eu sou do Mato Grosso, ou seja, esse convite para eu estar aqui hoje não foi por acaso,” comentou Ryane, fazendo referência ao Dia de Tereza de Benguela. “É muito importante que façamos nossos registros. Mais do que isso, é minha missão ancestral, concedida a mim por Exu, ajudar outras pessoas a caminharem também por meio da literatura. Minha escrita é uma escrita de cura, de partilha. E espero abrir caminho para que outras mulheres pretas venham, contem suas histórias. Porque a gente passa a vida achando que nossa vida não é importante, mas é essencial que a gente se levante e conte nossas narrativas. Pois se você não encontra um livro com histórias que você se identifique, talvez seja porque você precise contar sua história em primeira pessoa.”

Ryane e as mediadoras do projeto Diadema Escreve conversaram sobre literatura, negritude e sobre a vivência e a história de Ryane, finalizando com uma poesia em que diz “Se não houver ninguém para dizer que sou sagrada / Que eu seja a própria deusa de minhas águas salgadas. (…) Hoje eu estou viva / Hoje eu escolho estar viva / Hoje eu estou viva / E quem sabe, me vendo aqui viva, outras pessoas escolham permanecer vivas também.”

Dia Municipal da Pessoa Trancista
Em seguida, foi celebrado pelo segundo ano o Dia Municipal da Pessoa Trancista, criado por lei em 2022 a ser comemorado todo dia 15 de julho. “É com políticas públicas que fazemos de Diadema uma cidade melhor, mais inclusiva, livre de preconceito, de racismo, de machismo,” declarou a vereadora Lilian Cabrera, autora da lei. “E o processo de trançar o cabelo é parte da história e da cultura das mulheres afrobrasileiras. É preciso reconhecer, valorizar e preservar esses saberes e fazeres.”

O público presente assistiu compenetrado a um vídeo da educadora Gabe Imani sobre a história das tranças nagô e seu papel durante a escravidão e de como valorizar as trancistas é não só reconhecer uma prática cultural histórica, mas também uma profissão cada vez mais buscada pelas mulheres negras.

Cleone presente!
E foi a favor do reconhecimento das mulheres de luta de Diadema que foram entregues os primeiros prêmios Cleone Santos, em homenagem à ativista falecida recentemente. Entre as contempladas, Gisele Villela, 28, sobrinha de Cleone e trancista desde os 12 anos: “Receber esse prêmio me emociona muito, pois o trabalho da minha tia com as mulheres, pra mim, sempre foi algo muito familiar, assim como o trabalho com as tranças, e é muito importante ver Diadema reconhecer este valor. É um reconhecimento pessoal, familiar, profissional, tudo ao mesmo tempo. É uma loucura estar aqui. Fico muito feliz.”

Written by Agatha Fernandes

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