Coletivo MDDF apresentou as produções em evento cultural ao lado da primeira residência que foi construída na comunidade de Santo André
Santo André, 17 de fevereiro de 2025 – A história de mais de 50 anos do Núcleo Tamarutaca, uma das favelas urbanizadas mais populosas de Santo André, foi comemorada com os moradores de uma forma especial: ao lado da antiga “casa-sede do Sítio Casa Grande”, conhecida também como “Chácara do Seu Guilherme”. Era assim chamada a primeira residência do local, existente antes de os trabalhadores, que não tinham condições de pagar aluguel na década de 1970, ocuparem o local e, assim, darem origem à comunidade Tamarutaca. A construção fica na Praça Garibaldi, ao lado da Rua Guararapi, na Vila Guiomar, e até hoje é lar de uma família.
O MDDF (Movimento de Defesa dos Direitos dos Moradores de Favelas de Santo André) organizou, no começo de fevereiro, um evento cultural com direito a muito samba no pé para exibir o documentário e a revista “Tamarutaca – Memória e história de sua gente”, produções que resgatam as lutas e conquistas da população desde a década de 1970, quando surgiu a comunidade, tornando-se a terceira favela da cidade andreense (antes, já existiam a Quilombo dos Palmares, na Vila Palmares, e a Sacadura Cabral, localizada no bairro de mesmo nome). “Estamos muito felizes de entregar mais este projeto à comunidade e agradecemos a todas as pessoas que trouxeram suas memórias e percepções. Entendemos que este material representa o reconhecimento do MDDF à Tamarutaca, mas também a todas as outras favelas da cidade, onde vive muita gente que luta por moradia digna”, comemora a presidente do MDDF, Josenilda Maria da Silva.
Esse foi o segundo lançamento das produções – a primeira ocorreu em dezembro, no Sesc Santo André. “Levar a história da Tamarutaca para dentro da comunidade teve uma grande importância para atingir diretamente os moradores. Foi lindo ver os munícipes reconhecendo as pessoas que participaram da luta pelas melhorias”, afirma Solange Dias de Araújo, que coordenou o trabalho. O evento foi coroado com apresentação do grupo Comunidade do Samba Tamarutaca, composto por integrantes que vivem a rotina da favela.
Os primeiros moradores do Núcleo Tamarutaca eram, principalmente, pessoas que vieram do Nordeste em busca de melhores condições de vida, embora tenham convivido durante décadas com a falta de acesso à água encanada, energia, rede de esgoto e asfalto. O processo de urbanização do local teve início na década de 1990 e se estendeu, entre idas e vindas, por três décadas. Além disso, os moradores conquistaram o título da terra apenas em 2022.
De acordo com o Sumário de Dados da Prefeitura de Santo André de 2022, no local há 1.266 domicílios. Atualmente, percebe-se que há aumento de lajes e reformas nas residências. No entanto, persistem muitas edificações precárias e insalubres, que comprometem a segurança e a saúde dos moradores.
O trabalho de materialização das memórias, vivências, alegrias, dificuldades e conquistas da favela Tamarutaca começou em 2019, quando o MDDF tirou do papel o projeto “Cultura no Meio da Favela”, financiado pela Fundação Banco do Brasil. A iniciativa contemplou rodas de conversa na comunidade e pesquisas em arquivos de órgãos públicos.
Devido à pandemia de Covid-19, a pesquisa foi interrompida em 2020, sendo retomada em 2024, mas desta vez com novos parceiros, dentre eles o Museu de Santo André, o jornalista e memorialista Ademir Medici, do Diário do Grande ABC, e o Sesc Santo André. A produção do documentário e da publicação só foi possível após o MDDF ser contemplado com recursos do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas e do Programa de Ação Cultural – ProAC em 2023.