Três estudantes da EJA na EMEB Cora Coralina mostram, com suas trajetórias e experiências, como voltar a estudar pode ser benéfico nessa fase da vida
Em Diadema, nunca é tarde para estudar. É o que provam três estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do município, que frequentam as aulas na EMEB Cora Coralina, na região central. Maria Alves dos Santos, de 69 anos, nasceu em Araci (BA) e nunca teve a oportunidade de estudar quando era mais nova. Agente de Serviços Gerais aposentada da Prefeitura de Diadema, ela conta que ficou viúva muito cedo e que criou os filhos com muita luta.
“Cheguei a São Paulo e tentei estudar algumas vezes, mas sempre desistia por falta de tempo ou de condições para levar os estudos adiante, pois tinha que sustentar a família. Só consegui voltar a estudar três anos atrás, aos 66 anos.” Ela está no 8º ano, diz que aprender a ler fez toda a diferença em sua vida e que o apoio dos professores foi fundamental no processo de alfabetização. Ela incentiva as amigas a fazerem o mesmo, pois acredita que saber ler abre os olhos e a mente. “Faço parte da liderança do Núcleo Nações, do Conselho Municipal de Saúde e do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundeb. Só vou parar de estudar quando me formar em Direito.”
A história de Vicente Jerônimo da Silva, de 84 anos, é parecida. Hoje aposentado e divorciado, ele nasceu na pequena Joselândia, distrito de Santana dos Montes (MG), veio para São Paulo à procura de trabalho ainda jovem e por aqui ficou. Estudou até o 4º ano em Minas Gerais, onde, depois da escola, ia trabalhar na roça. Em São Paulo, não conseguiu continuar os estudos devido ao trabalho e porque não havia escola próxima.
“Só agora pude retomar. Como não consegui recuperar o histórico escolar, entrei na EJA I no início deste ano. É ótimo para não ficar parado, manter a mente ativa, por isso gosto de fazer palavras cruzadas. No dia a dia não dependo de ninguém, posso ler qualquer coisa, até bula de remédio. Não tem idade para voltar a estudar, basta ter vontade.”
José Luiz de Oliveira, aos 80 anos, faz coro com os colegas de escola. Natural de Uberaba (MG), veio para São Paulo aos 18 anos, teve inúmeras atividades profissionais, mas não conseguiu dar sequência aos estudos, feitos até o 6º ano em sua cidade natal. Ele estuda desde o início de 2024, está no 8º ano e quer continuar até se formar em Advocacia.
“É preciso muita disciplina, esforço e responsabilidade para estudar. Eu tenho um pouco de dificuldade com algumas matérias, mas os professores são muito bons, têm didática, jeito para ensinar e paciência, e tudo isso faz muita diferença no nosso aprendizado.”
A diretora da EMEB Cora Coralina, Marisa Cristina Desideri, diz que os benefícios de voltar a estudar nessa idade vão além do aprendizado regular, contribuindo para a socialização, sensação de pertencimento e acolhimento. “A rotina escolar favorece novas amizades e evita o isolamento e a solidão. Muitos idosos moram sozinhos, são viúvos e com filhos já casados e fora de casa, e aqui eles se sentem acolhidos. Além disso, nós promovemos passeios e atividades externas em teatros, cinemas, parques e exposições.”
Na visão de Absolon de Oliveira, coordenador da Educação de Jovens de Adultos, a educação para o idoso tem outro sentido e objetivo. “Para o idoso, a escolarização já não é apenas para obtenção de diploma, e sim para estabelecer canais de comunicação com a sociedade e com a vida coletiva, por isso reforçamos a importância da campanha ‘Lugar de idoso é na escola’, com o objetivo de ampliar a escolarização da população idosa no município de Diadema.”