Informações superficiais sobre planos de governos, cenário econômico e a falta de convivência com a realidade do país são um dos motivos
Maik Uchoa
Os quase 11 milhões de desempregados, a diminuição histórica de 0,68% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a taxa de juros em alta com seus 13,75% e as quase 20 milhões de pessoas em situação de pobreza. São essas, entre as inúmeras notícias sobre o Brasil, que rodeiam o dia a dia de quem vive no país. Mas, e para aqueles brasileiros que residem no exterior há alguns anos, será que eles estão atualizados o suficiente diante desses e outros acontecimentos, e como isso poderá afetar na hora de analisar os melhores planos de governos diante da corrida eleitoral?
O cientista político da Universidade do Minho, Lucas Pires, acredita que os brasileiros que vivem no exterior têm desvantagens durante o período eleitoral devido à falta de um noticiário constante e a ausência física no dia a dia, mesmo com a ajuda da internet. ” Ainda que as duas polarizações que estão disputando à presidência do Brasil sejam conhecidas (PT e PL), há grandes desvantagens para este perfil de eleitor. Na maioria das vezes, as informações são mais rasas se comparadas com quem está vivenciado tudo no país. Além disso, a forma de absorver a realidade do cenário político, econômico é apenas por meio de contatos informais com seus familiares e amigos. Sendo eles as principais fontes, porém superficiais e mais opinativas”, declara.
Informados completamente ou não sobre as propostas de governos e os acontecimentos gerais do país, os brasileiros que moram no exterior estão cada vez mais interessados em exercer seu papel político. São 697 mil eleitores ativos, se comparado aos números da última corrida eleitoral, em 2018, houve um crescimento significativo de imigrantes interessados às urnas, já que o total não ultrapassou 500 mil. Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O agente de exportação, Carlos Carvalho, 24, faz parte dos 1,8 milhão de brasileiros que vivem nos Estados Unidos, como apontam os dados do Ministério das Relações Exteriores, até 2020. O jovem deixou o Brasil há quase 5 anos, durante o fim da gestão do ex- presidente Michel Temer (MDB), para estudar negócios. Apesar de da distância, ainda assim o jovem busca informações sobre o cenário brasiliense e as propostas dos candidatos. ” Eu sempre acesso aos sites de notícias, porque eu quero participar da política, mesmo de longe. O meu trabalho requer atualização diária sobre o exterior, além do mais, a minha família ainda mora em São Paulo, me preocupo em vê-los sofrerem pelas consequências de decisões mal elaboradas vindo de líderes. Sinto que, às vezes, não basta ter conhecimento e entender, é preciso morar, consumir aquela realidade no cotidiano”, relata.
Para Pires, o que impulsiona os brasileiros no exterior a participarem da eleição mesmo a distância, é o ódio político mediado por certas lembranças ou motivos que fizeram o indivíduo deixar seu país. “O eleitor pode ser muito mais motivado a ir às urnas por sensação de revolta, inclusive, no segundo turno que é momento mais decisivo. O eleitor deseja que aquele determinado grupo deixe o poder, muito mais do que, de fato, apenas exercer seu direito de participação pensando nas mudanças nas diversas categorias ou setores. O ato de votar fora do país desperta paixão de teor negativo. Há uma sensação de Justiça”, conta.
O cientista político ainda explica que os brasileiros mudam de país por diversos motivos e levam suas últimas memórias consigo para o novo lar, mas o cenário que ficou sofre constante mudança e se atualizar, ainda mais em ano eleitoral, é indispensável. “Uma das soluções é que as pessoas busquem ler artigos que tenham discussões críticas com as propostas dos candidatos, acompanhem os debates por rede social, nas transmissões ao vivo e, também, busquem os canais de TV que ofereçam conexões com Europa, Estados Unidos entre outros lugares”, finaliza.